Com um tempo agente percebe que fantasmas não é aquele bicho
papão que a tia mala diz que vai aparecer no meio da noite, que não é o
primeiro dia de aula, a primeira queda, ou a primeira nota baixa. Com o tempo
se percebe que fantasmas são aquelas idéias e escolhas mal feitas no decorrer
dos dias, meses e anos. É ver que certas coisas que falamos e fazemos jamais
serão apagadas da cabeça de algumas pessoas. Agente percebe que o fantasma não
foi aquela queda, e sim ter permanecido ali no chão ao invés de se levantar e
tirar a poeira e esquecer as feridas no joelho e subir de novo como se nada
tivesse acontecido e olhar fixo para o horizonte e não deixar que nenhuma das
pedras te desconcentre novamente do caminho, agente percebe também que não foi
a nota baixa que te assustou, mas sim a falta de consideração com si próprio de
não ter se empenhado mais no seu próprio objetivo, de ter se dedicado para que
nada desse errado, para que as informações não se embaralhassem e depois você
sairia dali com a consciência tranqüila
de que todo o esforço não foi em vão e por mais que as barreiras te apareceram
no meio do caminho você não desistiu de encher aquela folha de respostas.
Percebemos que por mais que o quarto seja escuro, que você grite de medo no
meio da noite, que seus pés pareçam nunca tocar o chão, que os lençóis não
sejam suficientes para te cobrir, que seus olhos nunca se abram, que você soe
frio, que as luzes nunca se acendam, que
o caminho fosse cheio de pedras, e a folha cheia de respostas, você não deixou
que teu medo de tentar se tornasse o teu
maior fantasma.
(Ilana Odorico)
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